Estimuladas pelo programa Mulheres e Negócios Internacionais da ApexBrasil, exportadoras marcaram presença na feira, que aconteceu de 19 a 23 de fevereiro, e fizeram negócios no Oriente Médio, apesar dos desafios culturais
A delegação recorde de 117 empresas brasileiras na Gulfood 2024, a maior feira de alimentos e bebidas do Oriente Médio, esconde outro número histórico: um terço das participantes são lideradas por mulheres. O fato de a feira acontecer nos Emirados Árabes Unidos e atrair compradores árabes, cuja cultura pode ser desafiadora para mulheres realizarem negócios, não inibiu a participação das empresárias.
Desde 2023, com a criação do Programa Mulheres e Negócios Internacionais, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) tem adotado mecanismo para estimular a maior participação de lideranças femininas nas suas ações de promoção comercial. Os processos seletivos para feiras, cursos e eventos, por exemplo, passaram a contar com uma pontuação extra para empresas lideradas por mulheres. Só em 2023, foram mais de 30 eventos sob essa nova orientação, e em 2024 a Gulfood foi um deles.
Para a diretora de Negócios da Agência, Ana Paula Repezza, a participação das empresárias na feira reflete o sucesso do programa. “Esse ano na Gulfood a ApexBrasil trouxe um recorde de 33% de empresas lideradas por mulheres na delegação. Elas estão aqui exportando. A gente sabe da importância disso, especialmente num segmento em que a presença da mulher nas lideranças não é tão tradicional, como é o caso do agronegócio”, celebra.
Participam da feira empresas de diversos setores de alimentos e bebidas, como grãos, frutas e proteínas animais. Com mais de 150 mil visitantes esperados para os cinco dias de evento, a expectativa de negócios da delegação brasileira na feira é de US$ 2,4 bilhões.
Uma das empresas participantes é a Amazon Taste, de açaí da Amazônia, representada pela CEO Leandra Góes. A empresária está na Gulfood pela primeira vez esse ano e conta sua trajetória. “A nossa história começou com a ApexBrasil, em 2020, quando participamos do Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX). Participamos também o Mulheres e Negócios Internacionais e através desse programa participamos das mentorias do Elas Exportam. E hoje estamos aqui”, celebra.
Fhatina Salles, gerente de exportações da BR Mill Alimentos, localizada em Goiás, foi outra liderança feminina na delegação. A empresa, que trabalha na produção de milho e derivados, já atende mais de 33 países. E Salles está ansiosa para expandir ainda mais para o Oriente Médio. “Como mulheres não tivemos problemas nenhum para fazer negócios”, garantiu.
Cooperação internacional para equidade de gênero
Paralelamente à feira, a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza, realizou diversas reuniões institucionais em Dubai, com foco na agenda de gênero. Um desses encontros foi com o Dubai Women Business Council, estabelecido em 2002 como a principal plataforma para o desenvolvimento profissional de mulheres de negócios no Emirado de Dubai.
Uma possibilidade de parceria está no aumento da participação de mulheres no maior evento de startups que ocorre em Dubai, a Gitex North Star. A iniciativa contou com a colaboração da Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), visando fortalecer a presença feminina no cenário empresarial.
"As reuniões que fizemos hoje mostram que há muito espaço para cooperação entre a Apex e as instituições de apoio à agenda de gênero nos Emirados Árabes Unidos - e que não são poucas. Saímos entusiasmadas com possibilidades concretas de parcerias já em 2024", garantiu Repezza.
Além disso, a diretora participou de um encontro entre mulheres de negócios árabes e brasileiras, realizado no showroom da Ornare, uma empresa brasileira de móveis de alto padrão liderada por Shalise Basso e Carina Fontes. Durante o evento descontraído, foram abordados temas como o desafio das mulheres em posições de liderança nos Emirados Árabes Unidos e estratégias para fortalecer a rede de mulheres entre os dois países.
Para a chefe do Escritório da ApexBrasil em Dubai, Tatiana Riera, a aproximação entre o mundo árabe e o Brasil é estratégica, especialmente com a entrada dos EAU nos BRICS, e as mulheres podem ser protagonistas nesse processo. “Temos um cenário promissor a frente para desenvolver programas e iniciativas que promovam a igualdade de gênero nos negócios e no comércio internacional, fortalecendo o empreendedorismo feminino tanto no Brasil quanto nos Emirados Árabes Unidos”, ressalta.
