Entre 16 e 24 de maio, 42 produtoras de cinema brasileiras estão em Cannes para fazer negócios. Os profissionais contam com um grande estande nacional, apoiado pelo governo brasileiro.
O festival de Cannes é um dos momentos mais aguardados para produtores de cinema, distribuidoras e cineastas do mundo todo. Paralelamente às exibições e premiações, ocorre o Marché du Film, feira com foco no mercado audiovisual, onde são negociadas compras e vendas de filmes, além de captações de recursos e coproduções internacionais. Na edição deste ano, que ocorre de 16 a 24 de maio, o audiovisual brasileiro está representado no estande do “Cinema do Brasil”, com apoio institucional do governo brasileiro.
Desde 2019, o setor não contava com esse patrocínio para a participação no evento. Agora, é a retomada é uma iniciativa coletiva, que a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (SIAESP), o Ministério das Relações Exteriores (MRE), o Ministério da Cultura (MinC) e a Agência Nacional do Cinema (Ancine), juntamente com a Secretaria de Cultura e Economia de Criativa do Estado de São Paulo, a InvestSP e a Spcine.
Para a edição deste ano do festival de Cannes, o projeto “Cinema do Brasil” está com um grande estande no Marché du Film, com uma identidade visual arrojada, com onças pintadas em meio à floresta, que destaca a originalidade e a exuberância natural do país. O espaço representa a delegação de 42 empresas de cinema brasileiras interessadas em negócios internacionais.
Além de sete filmes em exibição no festival, esses profissionais do setor estão levando projetos de mais de 80 produções para apresentar para potenciais parceiros estrangeiros. Ao longo dos oito dias de programação, eles terão a oportunidade de participar de mais de 100 conferências, com mais de 12 mil pessoas, de 121 países diferentes.
Na abertura oficial do estande no Marché du Film, a Diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza, comemorou a colaboração institucional entre os diferentes parceiros para a retomada do apoio ao setor. “É um prazer enorme estar aqui nesse espaço e ver o Brasil de novo unido em torno de um dos nossos maiores patrimônios, que é a nossa cultura, o nosso cinema e nossas produções audiovisuais”, comemorou ela.
Repezza destacou, ainda, que a suspensão ao apoio ao setor gerou perdas não apenas para a indústria, comprometendo empregos e a entrada de divisas no país, mas também do ponto de vista de imagem. “A indústria audiovisual, assim como outros setores da economia criativa, tem um papel muito importante na projeção da imagem do Brasil, o que chamamos de soft power, e não teria forma melhor de retornarmos, com um estande tão bacana, com uma identidade visual que fala tanto sobre o nosso país”, afirmou a diretora.
O presidente do SIAESP, Andre Sturm, também celebrou o novo momento. “O Cinema do Brasil resistiu bravamente a esse período, que a gente prefere esquecer, e estamos de novo com patrocínio. E não só o patrocínio, porque a questão não é o dinheiro, é o apoio. É a parceria com a ApexBrasil, o MRE, a Ancine, com a Secretaria de Cultura e Economia de Criativa São Paulo e o Spcine, todo mundo em defesa da cultura e do audiovisual brasileiro”, afirmou.
Cinema fora do eixo
A programação do estande “Cinema do Brasil” foi aberta com uma palestra do diretor de cinema Sérgio de Carvalho, profissional do Acre, sobre a produção nacional fora do eixo Rio-São Paulo. Carvalho, cineasta do Acre, é o produtor do filme “Noites Alienígenas”, que foi consagrado com cinco premiações na última edição do Festival de Cinema de Gramado, incluindo melhor filme. Atualmente, o longa está em sua sétima semana em exibição e deve entrar na plataforma de streaming Netflix na sexta-feira, dia 19.
Em Cannes para buscar curadores, exibidores ou coprodutores para sua obra, o diretor comemorou a iniciativa de dar mais visibilidade à região Norte, um mercado em formação no setor audiovisual. “Eu sinto como se de certa maneira eu esteja trazendo todo o Norte comigo. O ‘Noites Alienígenas’, desde a sua premiação em Gramado, tornou-se uma referência para o cinema na Amazônia. E eu sinto que a ApexBrasil teve a sensibilidade de trazer essa produção que é feita na região”, comemorou Carvalho.
O cineasta também reivindicou uma melhor distribuição dos recursos alocados no apoio ao a produções audiovisuais no Brasil. “A região Norte é a principal região territorial brasileira. Mas, recentemente, a Ancine lançou um gráfico com a distribuição de recursos para o cinema feito no país, e quase 40% direcionavam-se a Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto toda a região Norte não chegava a 30%. Então é preciso ser feito um trabalho no sentido da descentralização de recursos”, defendeu o diretor.
Sérgio Carvalho falou, ainda, das expectativas das suas expectativas para internacionalização do seu filme. “É muito importante estar aqui no mercado, vindo de uma região de fronteira, entre Brasil e Peru, e uma região amazônica, que está na pauta global. A gente sabe das potencialidades que a economia criativa tem para a integração com os países vizinhos como com todo o mundo. O ‘Noites Alienígenas’ é um produto que está entrando agora na Europa, em Portugal, e espero que a gente possa alcançar outros mercados. Estar em Cannes é uma grande oportunidade de conhecer pessoas que possam levar o filme ainda mais longe”, destacou.
