Mulheres e Negócios Internacionais: a jornada da ApexBrasil rumo à equidade de gênero em 2023

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Por Ana Paula Repezza, Diretora de Negócios da ApexBrasil

Em janeiro de 2023, ao retornar para a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) como Diretora de Negócios, percebi que eu teria o privilégio de trabalhar com oito mulheres dentre os dez gerentes da minha área. No total, as lideranças femininas na Agência ultrapassavam 40%. É verdade que ainda não atingimos a paridade, meta perene, mas certamente nunca estivemos tão próximas.

Frente a essa realidade, entendi que esse ciclo precisava ser institucionalizado; que era nosso dever extrapolar nossas conquistas individuais para estruturar um plano que oferecesse oportunidades a mais mulheres. Três semanas após ser nomeada para o cargo, convidei minhas colegas a planejar um compromisso, que servisse não apenas internamente para a Agência, mas que construísse as bases para incluir mais lideranças femininas no esforço exportador brasileiro.

Sabemos que as mulheres representam fatia crescente do empresariado no Brasil: em 2022, chegou-se ao recorde de mais de 10 milhões de donas de negócios no país. Esse volume, entretanto, ainda representa um terço do total. Quando falamos de acesso a mercados internacionais, foco principal da atuação da ApexBrasil, a participação feminina é ainda menor: de acordo com um relatório preparado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), apenas 14% das empresas exportadoras brasileiras pertencem em sua maior parte a mulheres.

Quem trabalha com comércio exterior sabe do impacto que a internacionalização pode gerar nas firmas e na economia como um todo. Os empreendimentos que exportam protegem-se de crises no mercado doméstico, obtêm mais lucros, pagam maiores salários e crescem com mais dinamismo do que os não exportadores. Quando mais mulheres participam desse processo, o círculo se torna ainda mais virtuoso, já que quanto maior a renda delas, maior o investimento em saúde e educação nas suas comunidades. Ou seja, a participação de mais lideranças femininas na exportação representa um vetor valioso de desenvolvimento nacional.

Foi com o objetivo de operar nessas engrenagens que em março deste ano realizamos o primeiro evento para estabelecer um canal de diálogo com empresárias e instituições de apoio ao empreendedorismo feminino. Nessa ocasião, apresentamos o compromisso da ApexBrasil com a equidade de gênero, que detalha o engajamento da Agência com o tema. O documento foi subscrito por mais de 20 instituições parceiras, prevendo a criação de um programa que ampliasse a participação de mulheres nos serviços prestados por nós. Em março ainda inserimos no Estatuto Social da ApexBrasil que a designação para os cargos de chefia deveria observar a paridade de gênero, refletindo também internamente o esforço da Agência na inclusão de mais mulheres em posições de liderança.

Em junho, lançamos oficialmente o Programa Mulheres e Negócios Internacionais da ApexBrasil, que sintetiza essa aspiração de aproximar mais lideranças femininas às oportunidades comerciais em mercados estrangeiros. Com apoio incondicional do presidente Jorge Viana e do diretor de gestão corporativa Floriano Pesaro, formamos um grupo de trabalho para estruturar o programa. Para a minha alegria, meus colegas abraçaram a causa e não têm poupado esforços para aplicar a lente de gênero nas mais diversas iniciativas da Agência. A meta é que até 2026 pelo menos metade das empresas atendidas pela ApexBrasil sejam lideradas por mulheres.

Atingir esse patamar exige esforços em diferentes frentes. Em primeiro lugar, tivemos que começar a contabilizar as empresas lideradas por mulheres – pois essa informação não constava nos cadastros da ApexBrasil. Até dezembro deste ano, mais de 3 mil empresas da nossa base já foram identificadas como lideradas por mulheres.

Também foi necessário intensificar a atuação em colaboração com outras instituições, pois o desafio exige atuação em rede. Felizmente, temos contado com uma ampla gama de parceiras que não hesitaram em embarcar nessa jornada conosco, como o MDIC, a Rede Mulher Empreendedora (RME), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Sebrae, o Banco do Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entre muitas outras. Nossos calendários foram tomados por reuniões de alinhamentos, às vezes semanais, para dar conta da extensão dessa rede, e já começamos a ver os frutos.

O primeiro desdobramento do Mulheres e Negócios Internacionais reflete justamente a importância dessa construção de networking. O programa Elas Exportam, desenvolvido em parceria com o MDIC, foi o nosso piloto na estruturação de atividades de mentoria para mulheres. Entre agosto e novembro, 40 empresárias – 20 mentoras e 20 mentoradas – engajaram-se ativamente em 15 sessões coletivas e individuais para tratar de diferentes temas relacionados a exportação.

A ideia é que aquelas que já trilharam o caminho da internacionalização possam guiar as iniciantes, abordando não só aspectos técnicos desse processo, mas também as ferramentas socioemocionais que fazem muita diferença na hora de negociar com um comprador estrangeiro. Se a falta de confiança pode prejudicar a realização de uma venda, cabe também a nós contribuir para a superação das crenças limitantes e vieses inconscientes que frequentemente afligem as mulheres. O programa Elas Exportam já se provou um sucesso e estamos estruturando novas edições para 2024.

Mas a transformação que buscamos não se limita à criação de atividades exclusivas para mulheres. Nosso intuito é desenvolver uma nova cultura, em que a busca pela paridade de gênero seja incorporada como pressuposto inescapável em todas as atividades da Agência. Por isso, desde junho, uma resolução da diretoria executiva determina a adoção de mecanismos inclusivos para empresas lideradas e/ou de propriedade de mulheres em todas as ações executadas diretamente pela ApexBrasil. A partir daí, os processos seletivos para feiras, cursos e eventos passaram a contar com uma pontuação extra para empresas com lideranças femininas. Só em 2023, foram mais de 30 eventos sob essa nova orientação, e em 2024 serão muitos mais.

Em relação às empresárias que ainda nem imaginam a hipótese de acessar mercados internacionais, nossa estratégia é aproximá-las dessa realidade. No programa Exporta Mais Brasil, voltada para exportadores iniciantes, temos promovido diálogos que incluem o tema de mulheres na exportação. Em seis encontros, em seis estados diferentes, empresárias foram convidadas a integrar painéis, abertos ao público, para falar sobre sua experiência na jornada exportadora. A identificação é uma ferramenta poderosa, e queremos explorá-la ao máximo.

Também realizamos esse ano, de forma inédita, uma rodada de negócios específica para mulheres iniciantes na exportação. A iniciativa ocorreu dentro do festival Rede Mulher Empreendedora, grande parceira da ApexBrasil que promove anualmente um grande evento para debater empreendedorismo feminino. Nesta edição, 20 empresárias do setor de moda tiveram a oportunidade não apenas de participar do encontro, mas também de viver sua primeira experiência internacional. Em um espaço organizado pela ApexBrasil, as selecionadas puderam apresentar seus produtos para compradores internacionais, receber feedback sobre o potencial deles em outros mercados e fechar vendas. Ver o sorriso das empresárias empolgadas com as negociações, apostando no potencial dos seus empreendimentos, dá a certeza de que estamos no caminho certo.

Outra importante porta de entrada para o comércio exterior na qual estamos apostando é o e-commerce. De modo geral, as empresas lideradas por mulheres realizam uma parcela maior das vendas online quando comparadas com empresas lideradas por homens com características semelhatens. O modelo de negócios mais flexível se adapta melhor às necessidades da rotina delas, que geralmente inclui afazeres domésticos e cuidados com a família.

Para apoiar mais mulheres a atravessar fronteiras no comércio digital, incentivamos a participação de empresárias no programa E-xport da ApexBrasil. Em setembro, no evento anual “E-xport meeting”, organizamos um painel com lideranças femininas, com a participação da CNI. Em outubro, essa parceria se solidificou no “Mulheres Globais”, programa que promove workshops gratuitos para a promoção do comércio eletrônico como estratégia de expansão de negócios liderados por mulheres. A segunda fase, em 2024, incluirá a seleção de 20 empresas que participarão de ciclos de mentorias com especialistas em e-commerce.

As mulheres da área de investimentos também não ficaram de fora do Mulheres e Negócios Internacionais. Em outubro, durante o Corporate Venture, evento que estimula a atração de investimentos de corporações estrangeiras para o Brasil, foi realizado o encontro “Women in Venture”. Mais de 140 mulheres se reuniram para compartilhar suas perspectivas sobre os desafios e oportunidades no universo de inovação aberta e Corporate Venture Capital.

Em novembro, no maior evento de tecnologia do mundo, também demos atenção especial às mulheres dessa área. No Web Summit Lisboa, a ApexBrasil, em parceria com o Clube de Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa, promoveu um seminário e sessão de networking exclusivo para empresárias brasileiras e portuguesas. Elas discutiram a assimetria de gênero nos ecossistemas de inovação, já que, no Brasil, as mulheres representam menos de 10% dos fundadores de startups.

Concluo 2023 com a satisfação de ver que a aspiração de trazer mais mulheres para os negócios internacionais está se concretizando em ações efetivas, impactando centenas de empresárias e ecoando no trabalho de diferentes entidades e parceiros governamentais. Que em 2024 possamos, juntas, fazer ainda mais.

Tema: Qualificação Empresarial — Expansão Internacional
Mercado: América do Sul — Outros
Setor de Exportação: Não se aplica
Setor de Investimento: Não se aplica
Setor de serviços: Não se aplica
Idioma de Publicação: Português

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